sexta-feira, 8 de agosto de 2014

_O Jogador Oculto - Entrevista II

Sexo: Feminino
Actividade: Praticante de Futebol

KW: Está contente com o actual estado do futebol feminino em Portugal ? Se não, justifica.

JO: Ninguém perfeitamente consciente do estado do Futebol Feminino em Portugal responderia que estaria contente a esta pergunta. Sem qualquer sobra de dúvidas há uma lista interminável de coisas que estão erradas e que precisam de ser modificadas urgentemente. O Futebol é um desporto maravilhoso, infelizmente o mediatismo criado em torno dele, tem retirado fundamentalmente a sua componente genuína, que continua presente no Futebol Feminino, por toda esta dimensão ser meramente amadora e movida fundamentalmente pela paixão pelo desporto, espirito de sacrifício e entrega das atletas. Embora conste como uma vantagem, não é de todo justificável para o estado em que se encontra. Se existe objetivos reais para alterar est
e estado, creio que os esforços nesse sentido estão muito longe de ser suficientes. Atrevo-me a dizer que são invisíveis ao longo destes anos. Existe um grande número de atletas em condições desprezíveis, material de treino, horários de treinos, competências do staff técnico, arbitragem em jogos oficiais, deslocamentos a nível nacional para disputar jogos oficiais, entre outras coisas que podia mencionar. Por vezes tenho dúvidas se as pessoas com mais influência no pequeno “mundo” do Futebol Feminino tenham a real noção das condições que muitas atletas enfrentam, porque não tenho visto ações com o objetivo de melhorar as condições que os clubes possam oferecer às suas atletas. Esta pergunta arrasta consigo uma imensidão de questões que poderiam ser esmiuçadas até ao último pormenor, não me querendo alongar, gostaria apenas de alertar para a imensa falta de competência da arbitragem destinada aos jogos do Campeonato Nacional, na época 2013/2014, assisti a arbitragens inadmissíveis, digna de incapacitados.


KW: Sonha um dia jogar lá fora ? Se sim, em que campeonato.

JO: Há um longo caminho a percorrer sem dúvida, ainda existe muita ausência de informação e para saber um pouco mais temos que ser nós a procurar essa informação, porque ela simplesmente não passa à frente dos nossos olhos como o Futebol Masculino. Contudo, é de valorizar a evolução de alguns países, a aposta que fizeram no Futebol Feminino é invejável! Existe países mais evoluídos que outros, mas isso acontece em todos os setores, para acompanhar as realidades é necessário estar constantemente informado dos acontecimentos e esta ausência de informação também permite muitos erros de jogadoras estrangeiras. Em cada campeonato, encontramos um futebol diferente, mais aliciante para umas, menos aliciantes para outras, no fundo tem tudo a ver com escolhas, contudo, segurança e estabilidade é aliciante para todas. O Futebol Feminino em Portugal sempre foi encarado como um passatempo por todos, porém existe grande dedicação por parte das jogadoras e genuínos colaboradores, quando a ambição se torna parte integral do processo evolutivo, naturalmente que procurar a tal “segurança” e “estabilidade” que vos falei anteriormente, passa por sonhar com a possibilidade de jogar fora, profissionalizar o nosso passatempo. Em tempos tive essa ambição. O Campeonato Alemão em toda a sua plenitude parecia-me adequado às minhas ambições, sendo que na minha opinião é dos melhores Campeonatos para evoluir e assegurar um contexto estável.    


KW: A nível de seleção, acha que estamos a evoluir ou a regredir?

JO: A nível de Seleção presentei algumas melhorias durante estes anos, embora mais significativas a nível de formação. Creio que está presente uma falsa exaltação! Passo a explicar, para quem está de fora do mundo do Futebol Feminino e acompanha algumas etapas, parece que estamos a evoluir, aliás, segundo as noticias que saem…excelente evolução! O que as pessoas não sabem é que não passam de pequenos ajustes medíocres que em nada favorecem a tão necessitada evolução. Estamos tão atrasados em relação a tantos países, que não se exige nada menos que outra ambição, outros métodos, outras preocupações, mais foco nos objetivos e menos distrações. Não adianta perder tempo a tapar pequenos buracos… Há momentos que penso que é preciso mais radicalismo! Ou queremos uma seleção de elite e elevar o futebol feminino ao lugar que lhe pertence ou continuamos a tapar buracos, anos e anos seguidos, como o “bom português” sempre faz. Portanto, respondendo à pergunta. Existe sim uma evolução, insignificante na minha opinião.


KW: Se tivesse o poder total sobre o futebol feminino em Portugal diga 3 decisões que tomaria.

JO: É uma questão difícil de responder. Como qualquer decisão abarca consigo muitas componentes e muitos fatores influenciáveis. Porém, tentarei responder de forma coerente e concisa. Uma das minhas decisões seria atuar na estrutura fundamental para a evolução, a formação. Tanto a nível masculino como feminino, a formação têm-se mostrado como uma fragilidade nesta dimensão. Sendo o ponto inicial para poder melhorar a dinâmica do futebol, “todos” sabemos que os jogadores de elite, foram acompanhados por profissionais competentes e cresceram nas melhores academias de formação a nível mundial. Desta forma, parece-me extremamente importante, criar condições excelentes de trabalho às jogadoras durante o seu processo de crescimento sem descuidar de qualquer pormenor que de certa forma possa influenciar positivamente o seu crescimento como atleta e como pessoa, porque estamos a lidar com pessoas e esse deve ser um parâmetro a ter uma imensa consideração. Em segundo lugar, o meu foco de atenção era criar condições para que as equipas seniores fossem profissionalizadas e autossustentáveis. Um trabalho extremamente complicado na minha opinião que levaria imenso tempo mas que seria da mesma forma gratificante, permitindo a evolução das atletas e o interesse na modalidade para o público em geral. As equipas seniores são o exemplo das camadas mais jovens, que ambição terão elas em querer alcançar tal estatuto se a grande diferença está no escalão que ocupam. Por último, investia na estrutura principal do Futebol Feminino, a Seleção. Como objetivo primário de todas as atletas em geral, esta estrutura teria uma importante componente motivadora para que os objetivos pretendidos fossem alcançados. O trabalho principal tem que ser feito na FPF, para que tudo isto faça sentido é necessário que todos os colaborantes e estruturas potencializadoras do Futebol Feminino encaminhem os seus trabalhos e esforços, no mesmo sentido. No sentido de elevar o Futebol Feminino Português a um patamar superior, para que deixe de ser trivial e passe a ser uma estrutura com potencial. 

KW: Diga o 11 ideal da seleção feminina.

JO: Não tenho um 11 ideal formado, as convocatórias são ligeiramente alteradas, mantendo-se um padrão. Sei que esse padrão é importante, com tão pouco tempo de trabalho para construir uma equipa é importante manter uma linha de jogadoras com quem trabalhar, mas a Seleção é “Portugal”. E com tanta qualidade no Campeonato Nacional é uma pena que esta seja desperdiçada, por falta de ambição e ausência de oportunidade. Não podemos criar uma Seleção de Elite se as nossas jogadoras estão constantemente a procurar os seus sonhos, nos países vizinhos ou do outro lado do globo e se não existe oportunidade para o largo número de praticantes da modalidade.

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